26/10/2007

EXU

Se alguém não tivesse seu Èsù em seu corpo, não poderia existir, não saberia que estava vivo, porque é compulsório que cada um tenha seu Èsù individual.
"Ntori pé Èsù bí Olódùmarè é ti mòó sí, ni pé irú ònà nkan gbogbo tó jé isée rè, enikéni ti Èsù bá sì wá pèlú rè, Èsù yi, ò n láti móo se àwon isé yí ni ònà tí ó jé ìrànwó ati àgbéga orúko àti agbára gbogbo fún Olúwaa rè."
"Em virtude da maneira que Èsù foi criado por Olódùmarè, ele deve resolver tudo o que possa aparecer e isso faz parte de seu trabalho e de suas obrigações. Cada pessoa tem seu próprio Èsù; o Èsù deve desempenhar seu papel, de tal modo que ajude a pessoa para que ela adquira um bom nome e o poder de desenvolver-se."
"Olódùmarè fez Èsù como se fosse um medicamento de poder sobrenatural próprio para cada pessoa. Isso quer dizer que cada pessoa tem à mão seu próprio remédio de poder sobrenatural podendo utilizá-lo para tudo o que desejar. Èsù exerce as mesmas funções para todos os ebora. Só os seres humanos não podem ver seu Èsù pessoal. Os ebora, os Òrìsà e todos os Irúnmalè podem ver-se a si próprios, acompanhados de seu Èsù, fato que lhes permite executar tudo o que têm necessidade, de acordo com as maneiras específicas e os deveres de seu Èsù".
Èsù está relacionado em várias passagens de Ifá e dentro do rito ao número 1; isto refere-se que a adição de uma unidade ao número redondo (200) evoca a continuação, o número redondo, ao contrário, marca uma paralisação na numeração, logo, por analogia, uma paralisação das relações sociais das partes, um limite.
Todo o sistema Afrô está interligado à condição da oferenda (ebó) com a finalidade de restituição de energia, redistribuindo o àse, é o único meio de conservar a harmonia entre os diversos componentes do sistema, entre os dois planos da existência, e de garantir a continuidade da mesma.
É Èsù quem faz cumprir esse processo para o equilíbrio de tudo que existe.
É a devolução que permite a multiplicação e o crescimento; é como se um processo vital equilibrado, impulsionado e controlado por Èsù, fosse baseado na absorção e na restituição constantes de matéria.
Nesse princípio de restituir que Èsù está ligado com o destino individual, tendo o poder sobre òna burúkú (caminhos condutores de elementos negativos) e òna rere (condutores das boas coisas, tanto no òrun como no àiyé).
Èsù fica à esquerda do caminho e daí controla a entrada e a saída de todo o tráfego, mas é a encruzilhada de três caminhos (orita), donde os caminhos se encontram e repartem seu local preferido.
Essa imposição de Èsù controlar tudo nos caminhos, de fechar e abrir os caminhos, não está ligada ao fato de que façam o gosto de Èsù como muitos pensam, e sim pelo fato que Èsù cobra para permitir salvaguar e desenvolver a existência individualizada, a de cada ser a quem Èsù acompanha e representa.
Como Èsù é a interação de todos elementos, suas cores representativas deixam isso bem claro: o preto, o vermelho e o branco.
Deixando claro também que Èsù Òrìsà não tem nada haver com Èsù "rodantes", que incorporam, esses Èsù rodantes são égúns, não energia ebora.
Assim como Olódùmarè representa o princípio da existência genérica Èsù é o princípio da existência diferenciada.
Muitos tentam deturpar os ritos Afrôs atacando a figura de Èsu, querendo relacioná-lo com a maldade e a figura do Diabo, sabendo-se que esse elemento inexiste na cultura Yorubana, sendo o Diabo um elemento criado, inventado pela cultura Cristã e adotada pelos novos Néo-evangélicos como elemento de pressão para seus fiéis.
Òrìsà são energias da natureza condutores desta energia, inclusive de nossa energia mental, como é também o caso de Èsù. Sendo assim, recebemos tão somente aquilo que merecemos e produzimos. Se tivermos um presente de desequilíbrio, não sabendo como utilizarmos a própria natureza em sua abundância, teremos um futuro em desgraças e miséria. Se não repormos aquilo que utilizamos, nossa espécie estará condenada a extinção. É nesse ítem que Èsù cumpre seu papel, cobrando a reposição para a continuidade, equilibrando assim Òrun (o Além) e o Àiye (o mundo).
Èsù é o líder dos Òrìsà, o primogênito do Universo, o primeiro elemento a ser criado. A criança querida de Olódùmarè.
No princípio Olórun (Deus) era uma massa infinita de ar; quando começou a mover-se lentamente, a respirar, uma parte do ar, transformou-se em massa de água, originando Òrìsànlá, o grande Òrìsà-Funfun (Òrìsà do branco). O ar e as águas moveram-se conjuntamente e uma parte deles mesmos, transformou-se em lama. Dessa lama originou-se uma bolha ou montículo, primeira matéria dotada de forma, um rochedo avermelhado e lamacento (laterita). Olórun admirou essa forma e soprou sobre o montículo, insuflando-lhe seu èmí (hálito), o òfurufú (ar divino), dando-lhe vida.
Esse rochedo de laterita, era Èsù, ou melhor, o proto-Èsù, Èsù Yangí. Foi dessa mesma lama que Èsù foi criado que Ikú tomou uma porção para modelar o ser-humano. Yangí, constituído da mesma matéria de origem, converte-se assim, no primogênito da humanidade. Èsù Yangí, é o Èsù ancestre ou Èsù-Àgbà, o Èsù pé do Òkòtó (rei de todos seus descendentes), Èsù-Oba é o pai-ancestre mas, ao mesmo tempo, o primeiro nascido. Èsù é por isso o Igbá-Keta (a terceira cabaça), a terceira pessoa, o terceiro elemento.
Nas Ilés Òrìsà, cada Òrìsà possui seu Barà pessoal, o nome de cada Èsù acompanhante é conhecido, invocado e cultuado junto ao Òrìsà, como elemento indestrutívelmente ligado a este.
Ifá nos relata no Odù Ogbè-Ìretè ; que Èsù deve fazer parte de tudo o que existe: "Odù Ifá explica tudo que concerne aos vários Èsù individual. Todos ebora e os Òrìsà, que são os irúnmalè, cada um deles tem seu próprio Èsù à parte. Da mesma forma, todos os animais, cada um, tem seu próprio Èsù de acordo com a espécie. Olódùmarè criou Èsù como um ebora todo especial de maneira tal que ele deve existir com tudo e residir com cada pessoa. Em virtude de suas competências e poder de realização, de sua inteligência e natureza dinâmica, o Èsù de cada um deverá dirigir todos os seus caminhos na vida. É Ifá quem fala e revela para nos permitir sabê-lo.
Essa capacidade dinâmica de Èsù que tanto permite a Sòngó lançar suas pedras de raio como a Òsónyìn preparar seus remédios, esse poder neutro que permite a cada ser mobilizar e desenvolver suas funções e seus destinos, é conhecido sob o nome de agbára. Èsù é o Senhor-do-poder (Elegbára), ele é ao mesmo tempo seu controlador e sua representação.
Èsù carrega o Àdó-iràn (a cabaça que contém a força que se propaga).
É somente por seu intermédio que é possivel adorar as Ìyá-mi. *



osogbo