29/07/2009

a força de osun!

“Toda a cidade (Salvador) é d’Oxum” (Gerônimo & Vevé Calazans) Talvez melhor fosse dizer “toda mulher é d’Oxum”. O orixá da beleza e do amor é em certa medida um modelo de realização para as mulheres brasileiras, de um modo geral, ainda que muitas não o saibam. É a mulher que deu certo, do ponto de vista estritamente humano, isento de julgamentos morais. O valor estético de Oxum é inquestionável. No contexto brasileiro, inevitavelmente as mulheres se identificam com algum traço da personalidade desse orixá. Tal como a deusa africana, elas querem ser cobiçadas, contempladas e envolvidas intensamente no amor, pois são genericamente românticas. “E a Oxum mais bonita, hein? Tá no Gantois Olorum quem mandou Essa filha de Oxum tomar conta da gente...” (Dorival Caymmi) Segundo o tipo mítico geral, quem é d’Oxum é a vaidade em pessoa. Seus filhos têm as formas do corpo arredondadas, um jeito gracioso e grande capacidade de amar (Prandi, 1991). Gente que quer brilhar, assim é a mulher exuberante que ostenta os dons recebidos da mamãe Oxum. A idéia de mãe no Brasil é associada sobretudo à figura da mulher super protetora, que é capaz de grandes sacrifícios por seus filhos. Aquela que está sempre na torcida ou preparada para acolher e consolar em seu aconchego materno. É a chamada “mãezona” que se desdobra em seus afazeres domésticos, tudo em função do marido e dos filhos. Ainda é presente em nosso imaginário a figura da “mãe de leite”, aquela negra escrava que amamentava os filhos do senhor, e cuidava dos meninos brancos com dedicação, as sinhás mães postiças, que são capazes de estenderem seu carinho a muitos “filhos”. São as mulheres experientes que conhecem as artimanhas da vida, as conselheiras, as pretas-velhas da umbanda, as ‘divinizadas senhoras’. Essas são as velhas mulheres dos morros cariocas, as líderes comunitárias, as baianas mães de santo. Pessoas bastante reverenciadas como Menininha do Gantois, Clementina de Jesus, Ivone Lara, entre outras. “Mas é preciso ter raça, É preciso ter força, É preciso ter gana sempre.” (Milton Nascimento) O amor traduz-se em entrega de si na maternidade. Ser mãe é prazer e dor, mas sobretudo uma profunda experiência amorosa para uma mulher. Não por acaso a mãe é aquela que mais se alegra com sucesso e quem mais se angustia com o sofrimento de quem antes de mais nada é seu filho. Talvez por essa doação de si na relação materna, a mulher seja mais propensa à gratuidade no convívio social. Daí para um envolvimento num tipo de trabalho comunitário é um passo. A liderança da mulher em associações de moradores, movimentos populares e grupos religiosos é fato no meio da população pobre brasileira. A mulher é mais sensível ao trabalho voluntário e a dona de casa mais disponível para a participação em organizações sociais a partir da condição de proximidade de moradia, tais como em igrejas e grupos de bairro. Dessa atitude pode surgir engajamento político, projeção abrangente e até exercício de cargos públicos. E aí então o modelo são as conquistadoras de adesão e voto, como: Luiza Erundina, Benedita da Silva, Deolinda Alves do movimento dos sem-terra. "Ó mãe, me mostra, me ensina, me diz o que é feminina. Não é no cabelo, no dengo, no olhar, feminina menina por todo lugar” (Joyce) Continua... 5º parte

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