29/07/2009

osun e o coraçao

No amor Oxum é ardorosa. Seu leito conhece muitos amantes, para os quais propicia momentos de raro prazer, de tão formosa e quente que é. Mas quando se apaixona realmente ela é entrega total. Oxum luta para conquistar o amor de Xangô e quando o consegue é capaz de gastar toda sua riqueza para manter seu amado. Ela livra seu querido Oxóssi do perigo e entrega-lhe riqueza e poder para que se torne Alaketu, o rei da cidade de Ketu. Porém Oxum é extremamente caprichosa e volúvel. Quando alguém lhe atrai, não importa quem seja o parceiro ou o sentimento que vá causar, ela faz o que for preciso para conquistar e desfrutar do prazer, mesmo que seja tão passageiro. Rebolando e cantando provocantemente, Oxum seduz a bela Iansã, mas logo a troca por outro alguém, tendo de fugir para não apanhar da deusa da tempestade. Oxum provoca disputa acirrada entre dois irmãos por seu amor: Xangô e Ogum, ambos os guerreiros famosos e poderosos, o tipo preferido por ela. Xangô é seu marido, mas independente disso, se um dos dois irmãos não a trata bem, o outro se sente no direito de intervir e conquistá-la. Afinal Oxum quer ser amada e todos sabem que ela deve ser tratada como uma rainha, ou seja, com roupas finas, jóias e boa comida, tudo a seu gosto. A beleza é o maior trunfo do orixá do amor. A vaidade a faz contemplar-se constantemente pelos reflexos na água ou nos espelhos que sempre dispõe. Não basta ser bonita, é preciso ser insuperável. Para tanto Oxum vai ao ataque contra quem a “ameaça”, pois a inveja abala sua autoconfiança. Ela usa o espelho de Egungun, que só mostra a morte, para que sua irmã mais bela, Oiá, se veja destorcidamente refletida e então enlouqueça de desespero. Como esposa de Xangô, ao lado de Obá e Oiá, Oxum é a preferida e está sempre atenta para manter-se a mais amada. Ela adora enganar Obá. Oxum induz Obá a cortar a própria orelha para cozinhar e servir para Xangô, dizendo ser o prato preferido do marido, que na verdade fica enojado e enfurecido. Ela também engana Eleguá que, a serviço de Obá para fazer um sacrifício, corta erradamente o rabo do cavalo de Xangô. Outra vez Obá queria agradar seu marido, mas acaba odiada por ele. Oxum definitivamente quer o fracasso de quem considera rival. Oxum é vingativa quando ofendida, sobretudo se sua forma física é ridicularizada. Ela tem pavor de ser tida como velha e feia. Por isso chega a matar o caçador pelo qual se enamora, após tanto tempo na lagoa se banhando, se preparando para encontrar seu amor, tempo em que envelheceu sem perceber. Oxum o mata por tê-la confundido com a velha feiticeira Ia-Mi-Oxorongá. É humilhação demais para quem tem a beleza acima de tudo. Melhor é cortar o mau pela raiz, custe o que custar afinal ser considerada feia é própria morte para ela. Foi de Oxum a delicada missão dada por Olodumare de religar o orum ao aiê quando da separação destes pela displicência dos homens. Tamanho foi o aborrecimento dos orixás em não poder mais conviver com os humanos que Oxum veio ao aiê prepará-los para receber os deuses em seus corpos. Juntou as mulheres, banhou-as com ervas, raspou e adornou suas cabeças com pena de ecodidé, enfeitou seus colos com fios de contas coloridas, seus pulsos com indés, enfim as fez belas e prontas para receberem os orixás. E eles vieram. Dançaram e dançaram ao som dos atabaques e xequerês. Para alegria dos orixás e dos humanos estava inventado o Candomblé. Os mitos da Oxum mostram o quão múltipla é sua personalidade. Dessa riqueza de traços resulta a possibilidade de que as mulheres mais diferentes como as que habitam um país tão grande como o nosso, em que a diversidade é a norma, se identifiquem com Oxum em maior ou menor grau. Aliás os orixás têm forte presença na música e em outras formas de manifestações artísticas da cultura brasileira (Prandi, 1997). É da mulher brasileira tal como a que aparece no imaginário popular,que vamos tratar a seguir. Continua...

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